quarta-feira, 16 de julho de 2008

PARTE I - Incógnita



A campainha tocou. Ela estava à espera de seu, talvez, novo assistente. Pelo que conversaram ao telefone, traçou um perfil barato tomando como parâmetro os clichês comportamentais na época em que o entrevistado nascera, a entonação que dera as palavras, do timbre de voz, gírias e vícios de linguagem pronunciados.

Ela sempre agia de forma peculiar além de falar muito pouco, fato responsável pelo desconcerto de todos os entrevistados anteriores. ‘Este é satisfatório’, pensou consigo. Marcou aquele encontro prévio para examinar o rapaz antes de dar a palavra final.

Quando entrou no apartamento não surpreendeu a anfitriã. Era exatamente como ela imaginara. Foi capaz até de acertar sua roupa com pequenos detalhes. Da informalidade do botão aberto do colarinho até a cor de camisa escolhida para aquele tête-à-tête profissional.

Examinava-o com certa superficialidade. Também era fácil de reparar que, mesmo tendo cinco anos a mais, ele se sentiu infinitamente desconfortável pela presença feminina no recinto. Ela notara, mas não fez questão alguma de confortá-lo. Falava apenas o necessário. Era um tipo angelical transformado em megera intelectual bem cuidada.

Um comentário:

Pedro Rabello disse...

Por que a maioria dos entrevistadores querem sempre ser intimidadores? Que coisa mais over! hahaha...